Prof. Dr. Acácio Fuziy
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ANDREA KANASHIRO TSUBONO Estudo da reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico Marília 2006 ANDREA KANASHIRO TSUBONO Estudo da reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico Monografia apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade de Marília (UNIMAR), para obtenção do Título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Prof. Dr. Acácio Fuziy Marília 2006 Universidade de Marília – UNIMAR Dr. Márcio Mesquita Serva Reitor Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Profa Dra. Suely Fadul Villibor Flory Pró-Reitora Faculdade de Ciências da Saúde Prof. Dr. Armando Castello Branco Jr. Diretor Programa de Pós-Graduação em Ortodontia (Nível Especialização) Prof. Dr. Paulo César Tukasan Coordenador Prof. Dr. Acácio Fuziy Orientador Universidade de Marília – UNIMAR NOTAS DA BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MONOGRAFIA ANDREA KANASHIRO TSUBONO TÍTULO: “Estudo da reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico” Data da Defesa: 12/12/2006 Banca Examinadora Prof. Dr. Avaliação: _________ Assinatura: _________________ Profa. Ms. Renata José Avaliação: _________ Assinatura: _________________ Prof. Dr. Acácio Fuziy Avaliação: _________ Assinatura: _________________ DEDICATÓRIA Dedicatória Ao meu esposo Clovis, Clovis Por sua existência, Por estar sempre ao meu lado, Pelo companheirismo, respeito e incentivo, Pela paciência e sabedoria para transmitir seu conhecimento e experiência clínica, Sempre presente em minha vida, Com amor e carinho, Dedico-lhe este trabalho Dedicatória Aos meus filhos, Camila, Gabriela e Dante, Pela oportunidade de experimentar A mais pura forma de amor E por terem me acompanhados com paciência, No decorrer deste curso, Revelando-me a certeza de que todos os dias, Ao lado deles, são maravilhosos, Dedico-lhe este trabalho Dedicatória Dedico aos meus sogros Ysonobu e Irene, Irene Que sempre me apoiaram para concluir este curso, E pela dedicação e amor infinitos aos seus netos. AGRADECIMENTOS Agradecimentos Meus agradecimentos A Deus, pela vida, paz e tranqüilidade em todos os momentos de minha vida; À Faculdade de Ciências da Saúde da UNIMAR representada pelo seu Diretor Prof. Dr. Armando Castello Branco Jr.; Aos meus pais Aquino (in memorian) e Helena, pela minha vida e formação; Ao Prof. Dr. Paulo César Tukasan, coordenador do curso de pós-graduação em Ortodontia, pela dedicação ao ensino e pelos conhecimentos transmitidos para minha formação como especialista; Ao Prof. Dr. Acácio Fuziy, pelo incentivo, pelos ensinamentos que me foram transmitidos, pela orientação desta monografia e por ter acreditado em mim; Ao Prof. Marco Aurélio Bachega, pela amizade e incentivo demonstrados durante o curso; Agradecimentos A Renata José e Roberto Giogi Takayama, pelo apoio e pela amizade que fortaleceram durante o curso; Aos colegas do curso de Especilaização, Alessandra, Alexandre Varnier, Alexandre Yunomae, Ana Paula, Janine, Paulo, Rejane, Rosângela, Thaísa, Ulisses e em especial à Adriana, pela amizade e convivência; Ao Prof. Dr. Sebastião Marcos Ribeiro de Carvalho, pelo ensinamento das normas para apresentação desta monografia; Aos funcionários, Graciane, Ademir, José Benedito, Andréa, Regina e Gustavo pela atenção e pelos serviços prestados; Ao Marcello Salloume Semaan, pela atenção e pelo apoio prestados; Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a obtenção deste título. Muito Obrigada! RESUMO Resumo RESUMO O termo reabsorção dentária inclui todas situações em que os tecidos dentários mineralizados são eliminados pelas células clásticas em algum ponto da superfície interna ou externa do dente. A reabsorção dentária fisiológica ocorre nos dentes decíduos e caracteriza-se pela perda gradativa do cemento e da dentina (rizólise) e está geneticamente programado. As reabsorções dentárias patológicas são classificadas em: inflamatória e por substituição. A reabsorção inflamatória decorre de um agente agressor, que leva à lesão externa e/ou interna. A reabsorção por substituição é conseqüente de uma anquilose alveolodentária prévia, em que danos irreversíveis ao ligamento permitem a ligação direta do cemento ao osso alveolar (ANDREASEN, 1988 apud CONSOLARO, 2005). As reabsorções inflamatórias externas são divididas em: cervical, lateral e apical. A reabsorção radicular apical externa caracteriza-se pelo encurtamento radicular, na diminuição do periodonto de sustentação e resulta de lesões periapicais, traumatismo dentário, reimplantes, movimento dentário induzido, trauma oclusal e bruxismo. Essa reabsorção é um dos mais comuns e indesejáveis efeitos colaterais da movimentação dentária ortodôntica. A reabsorção radicular externa suave decorrente do tratamento ortodôntico não diminui a longevidade e nem a capacidade funcional dos dentes envolvidos. Entretanto, se mais da metade do comprimento radicular é perdida pela reabsorção, a função e a manutenção do dente afetado podem ser complicadas. A prevalência de reabsorção radicular em indivíduos que se submeteram ao tratamento ortodôntico é de 100% (GOLDSON; HENRIKSON, 1975; MASSLER; MALONE, 1954), e 93% dos dentes movimentados apresentaram algum grau de encurtamento radicular (MASSLER; MALONE, 1954). Pelo fato da reabsorção radicular apical mostrarse freqüente no tratamento ortodôntico e apresentar-se iatrogênico e irreversível, preocupa veementemente os ortodontistas clínicos. A etiologia da reabsorção radicular apical parece depender de fatores gerais, sendo estes a hereditariedade, o gênero, a idade e o estado de saúde; e locais, como tipo de má oclusão, hábitos, traumatismo prévio e morfologia radicular; e mecânicos, como magnitude da força ortodôntica, intervalo de aplicação da força, tipo e Resumo duração da força. Diante destes parâmetros, este trabalho propôs-se a realizar uma revisão de literatura sobre a reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico, considerando a morfologia radicular, os tipos de movimentos dentários, tipo e duração da força e técnicas ortodônticas. Foi possível concluir que: dentes com raízes dilaceradas, pontiagudas ou em forma de pipeta; os movimentos ortodônticos de “vai-e-vem” e o tracionamento de caninos superiores impactados são fatores de risco para reabsorção radicular; a quantidade de movimentação horizontal dos incisivos superiores tem relação com a reabsorção radicular apical destes dentes; os movimentos de intrusão e de extrusão dentária e de torque vestibular e lingual de raiz devem ser executados respeitando-se os ossos corticais adjacentes aos movimentos e aplicar força suave; a força ortodôntica deve ser suave e intermitente; o uso de elásticos intermaxilares deve ser realizado com cautela, principalmente nos dentes de apoio para estes elásticos; a reabsorção radicular apical não progride após a remoção do aparelho ortodôntico, e; não há diferença de reabsorção radicular apical proveniente das diversas técnicas ortodônticas. Palavras-chave: Ortodontia; reabsorção radicular. movimento ortodôntico; força ortodôntica; ABSTRACT Abstract ABSTRACT Root resorption includes situations where mineralized tissue is eliminated through dentinoclasts at some point of internal or external tooth surface. Decidual teeth undergo rizolisis, which is characterized by gradual cement and dentin loss (root resorption), and it is genetically programmed. Pathological resorption can be classified as: inflammatory or replacement. Inflammatory resorption is a process where an aggressor factor causes external and/or internal lesion. Replacement resorption comes from a previous alveolar ankylosis, where there is an irreversible damage to the periodontal ligament, allowing a connection between the cement and the alveolar bone (ANDREASEN, 1988 apud CONSOLARO, 2005). External inflammatory resorption can be cervical, lateral, and/or apical. External apical root resorption is characterized by root retrenchment, when the sustaining periodontal ligament is shortened and there could be periapical lesions, tooth traumatism, replantation, induced tooth movement, occlusal trauma and/or bruxism. This kind of resorption is one of the most common and unwanted side effects caused by orthodontic dental movement. Minor external root resorption, due to orthodontic treatment does not alter tooth function, nor shorten its longevity, however, if more than half of root length is lost by resorption, tooth function and maintenance is likely to be damaged. All patients (100%) who undergo orthodontic treatment will have root resorption (GOLDSON; HENRIKSON, 1975; MASSLER; MALONE, 1954) and 93% of the moved teeth present some degree of root retrenchment (MASSLER; MALONE, 1954). Since apical root resorption usually happens in orthodontic treatment and it is iatrogenic and irreversible, it truly worries clinic orthodontists. Apical root resorption etiology seems to depend on general factors, such as: heredity, gender, age, and patients´ health; as well as local factors such as: malocclusion, habits, previously traumatized teeth, and root morphology; or even mechanical factors, as: degree, frequency, type and duration of the applied orthodontic force. Analyzing such parameters, the purpose of this study is a literature review on external apical root resorption associated to the orthodontic treatment, considering root morphology, types of tooth movement, type and duration of Abstract orthodontic forces and techniques. In conclusion, dilacerated, sharp or pipetteshaped roots, back and forth movements as well as upper canines movements increase the risk of root resorption; the amount of horizontal movement applied to the superior incisors is related to the apical root resorption of these teeth; dental intrusion and extrusion as well as vestibular and lingual root torque must be performed watching the cortical adjacent bones, and the applied orthodontic force should be light and intermittent; the usage of intermaxillary elastic bands should be done carefully, specially on the teeth that support these elastic bands; apical root resorption does not make progress after the orthodontic appliance removal, moreover, there is no difference between apical root resorption from different orthodontic techniques. Key words: Orthodontics; orthodontic movement; orthodontic force; root resorption. SUMÁRIO Sumário SUMÁRIO 1 – Introdução…………………………………………………19 2 – Revisão de literatura……………………………………..22 3 – Proposição ...……………………………………………..40 4 – Discussão ...………………………………………………42 5 – Conclusão ...................................................................53 Referências........................................................................55 1. INTRODUÇÃO 20 1. Introdução 1 – INTRODUÇÃO Em 1932, Becks e Marshall após extensa revisão de literatura verificaram que a palavra apropriada para descrever a perda radicular apical foi reabsorção. Assim sendo, o termo reabsorção dentária inclui todas situações em que os tecidos dentários mineralizados são eliminados pelas células clásticas em algum ponto da superfície interna ou externa do dente. A reabsorção dentária fisiológica ocorre nos dentes decíduos e caracteriza-se pela perda gradativa do cemento e da dentina (rizólise), mas paralelamente à reabsorção dos mesmos, há o desaparecimento natural da polpa e do ligamento periodontal resultando na exfoliação dentária. O processo de exfoliação dos dentes decíduos está geneticamente programado e na ausência do sucessor permanente, a rizólise ocorre mais lentamente, podendo prolongar-se por muitos anos. As reabsorções dentárias patológicas são classificadas em: inflamatória e por substituição. A primeira decorre de um agente agressor, que acarreta a lesão externa e/ou interna. A segunda resulta de uma anquilose alveolodentária prévia, em que danos irreversíveis ao ligamento permitem a ligação direta do cemento ao osso alveolar (ANDREASEN, 1988 apud CONSOLARO, 2005, p.62). As reabsorções inflamatórias podem ser classificadas segundo a localização em: interna, externa ou combinada. As internas são geralmente causadas por traumatismos, cáries, pulpites e restaurações profundas; podem atingir a porção radicular e/ ou coronária. As reabsorções externas geralmente afetam os dentes irrompidos, sendo elas localizadas na porção radicular ou na junção amelocementária. A reabsorção cervical externa relaciona-se especialmente com os procedimentos e substâncias utilizadas na clareamento dentária e com os traumatismos. A reabsorção radicular lateral ocorre ao longo da região média da raiz podendo ser causada por agentes químicos, movimentação ortodôntica, lesões periapicais crônicas, reimplantes e expansão rápida. A reabsorção radicular apical caracteriza-se pelo encurtamento do longo eixo do dente e na diminuição do periodonto de sustentação e resulta de 1. Introdução 21 lesões periapicais, traumatismo dentário, reimplantes, movimento dentário induzido, trauma oclusal e bruxismo. Durante a movimentação ortodôntica, a compressão no ligamento periodontal pode provocar necrose dos cementoblastos desta região, expondo a dentina à ação das células de reabsorção (clastos), osteoclastos e macrófagos, que iniciam o processo de reabsorção radicular externa proveniente do tratamento ortodôntico (MOYERS, 1991). Essa reabsorção, caracterizada pelo encurtamento radicular dentário, é um dos mais comuns e indesejáveis efeitos colaterais da movimentação dentária ortodôntica. A reabsorção radicular externa suave decorrente do tratamento ortodôntico não diminui a longevidade nem a capacidade funcional dos dentes envolvidos (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993), mostra-se assintomática e preserva a vitalidade pulpar, sem alteração na coloração dos dentes. Entretanto, se mais da metade do comprimento radicular é perdido pela reabsorção, a função e a manutenção do dente afetado pode ser complicada (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993; McFADDEN et al., 1989). A prevalência de reabsorção radicular em indivíduos que se submeteram ao tratamento ortodôntico é de 100% (GOLDSON; HENRIKSON, 1975; MASSLER; MALONE, 1954), e 93% dos dentes movimentados apresentaram algum grau de encurtamento radicular (MASSLER; MALONE, 1954). Pelo fato da reabsorção radicular apical mostrar-se freqüente ao tratamento ortodôntico e apresentar-se iatrogênico e irreversível, preocupa veementemente os ortodontistas clínicos. A etiologia da reabsorção radicular apical parece depender de fatores gerais, sendo estes a hereditariedade, o gênero, a idade e o estado de saúde; e locais, como tipo de má oclusão, hábitos, traumatismo prévio e morfologia radicular; e mecânicos, como magnitude da força ortodôntica, intervalo de aplicação da força, tipo e duração da força. Diante destes parâmetros, este trabalho propõe-se a realizar uma revisão de literatura sobre a reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico, considerando a morfologia radicular, os tipos de movimentos ortodônticos, tipo e duração da força ortodôntica e técnicas ortodônticas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2. Revisão de Literatura 23 2 – REVISÃO DE LITERATURA Rudolph (1940) analisou radiografias periapicais de 513 indivíduos que receberam tratamento ortodôntico, sendo 219 do gênero masculino e 294 do feminino, com idade variando de 7 a 21 anos. As radiografias foram realizadas antes do tratamento e anualmente até o término do tratamento. Relatou que houve maior incidência de reabsorção radicular quanto maior a idade em que se iniciou o tratamento ortodôntico e maior o tempo de tratamento. Hemley (1941) analisou radiografias periapicais realizadas no prétratamento e até um ano pós-tratamento de 195 indivíduos que foram tratados com aparelhos ortodônticos. Observou, considerando-se a suscetibilidade que: 21,5% dos indivíduos apresentaram reabsorção radicular; os incisivos centrais inferiores mais do que os incisivos centrais superiores, os incisivos laterais superiores predominaram sobre os inferiores, os caninos superiores mais prevalentes que os inferiores, os pré-molares inferiores não sofreram reabsorção e que os primeiros pré-molares superiores mais suscetíveis que os segundos pré-molares superiores. Henry e Weinmann (1951) estudaram histologicamente a reabsorção radicular em 261 dentes extraídos de 15 cadáveres nos quais seriam realizados a necrópsia, com idade variando de 16 a 58 anos. Verificaram que 90,5% dos dentes mostraram evidência histológica de reabsorção radicular; a suscetibilidade à reabsorção radicular aumentou com a idade, e; se manifestou na região do 1/3 apical em 76,8%. Massler e Malone (1954) analisaram radiografias periapicais de todos os dentes de indivíduos que foram divididos em dois grupos: o primeiro grupo, composto por 708 indivíduos com idade variando entre 12 e 49 anos e que não receberam tratamento ortodôntico; o segundo grupo, constituído por 81 indivíduos com idade variando entre 12 e 19 anos e que receberam tratamento ortodôntico pela técnica “Edgewise”. As radiografias periapicais foram realizadas antes e após o tratamento. Verificaram que, no primeiro grupo: todos os indivíduos apresentaram algum grau de reabsorção radicular apical; apenas 1,6% dos dentes examinados não apresentaram evidências de reabsorção radicular apical; não houve diferença significativa entre os gêneros. 2. Revisão de Literatura 24 Observaram também que a ordem decrescente de ocorrência de reabsorção foi: incisivos inferiores, incisivos laterais superiores, pré-molares, incisivos centrais superiores e caninos superiores. Em relação ao segundo grupo, relataram que: ocorreu reabsorção radicular em 93,3% dos dentes, e; os dentes mais susceptíveis foram os incisivos superiores e inferiores, seguidos dos primeiros molares superiores, pré-molares superiores e caninos superiores. Phillips (1955) estudou radiografias para avaliar a reabsorção radicular associada ao tratamento ortodôntico. Utilizou radiografias periapicais de 69 indivíduos e telerradiografias laterais de 62 indivíduos, pré e pós-tratamento, tratados com aparelhos ortodônticos fixos, pela técnica “Edgewise”. Analisou que: a incidência de perda de raiz apical pôde ser atribuída a forças ortodônticas; na maioria das vezes, o grau de reabsorção radicular foi considerado clinicamente insignificante e não comprometeu a vida nem a função dentária; a idade, o gênero, o tempo de tratamento e a quantidade de movimento ortodôntico não mostraram relação com a reabsorção radicular; algum fator metabólico foi sugerido nos casos de perda de raiz apical extrema; dentes com coroas fraturadas ou raízes com deformidade tiveram maior predisposição à reabsorção radicular, e; os dentes mais susceptíveis à reabsorção radicular, em ordem decrescente, foram os incisivos centrais superiores (84,1%), incisivos laterais superiores (83,2%), incisivos centrais inferiores (71,7%), incisivos laterais inferiores (65,9%), caninos superiores (27,6%), caninos inferiores (18%). Reintan (1974) observou histologicamente a reação tecidual apical de raízes de 72 pré-molares obtidos de 32 indivíduos com idade que variava de 9 a 16 anos. Da amostra total: 16 dentes foram extruídos com força que variou de 25g a 40g e, 14 dentes com força menor que 120g; 18 dentes foram intruídos com força variando de 25 a 90g, e; 24 dentes tiveram movimento de inclinação com força variando de 30 a 240g. A movimentação dentária foi realizada por um segmento de fio de calibre de .014” e .018” que se estendia dos acessórios dos primeiros molares até os acessórios dos pré-molares e a força foi controlada semanalmente, durante 19 a 35 dias. Revelou que os movimentos de extrusão, intrusão e inclinação promoveram reabsorção radicular na maioria dos casos. 2. Revisão de Literatura 25 Goldson e Henrikson (1975) estudaram o grau e a incidência de reabsorção radicular em radiografias periapicais de 42 indivíduos tratados pela técnica de “Begg” com extração dos primeiros pré-molares superiores e inferiores e o tempo médio de tratamento foi de 19,8 meses. As radiografias periapicais foram realizadas no pré-tratamento, após o fechamento dos espaços das extrações, após a finalização e 6 meses pós–tratamento. Verificaram que: 4% dos dentes apresentaram pequenas reabsorções antes do tratamento; antes da correção das inclinações axiais dos dentes, 25% dos dentes apresentaram contorno irregular do ápice e 31% com reabsorção menor que 2 mm; ao final do tratamento, 48% dos dentes apresentaram reabsorção menor que 2 mm e 3% com reabsorção de 2mm (um terço da raiz); os incisivos centrais superiores, os quais foram submetidos a torque lingual de raiz, apresentaram maior reabsorção; a incidência de reabsorção radicular após 6 meses de finalizado o tratamento foi de 95% dos incisivos centrais inferiores, 90% dos incisivos centrais superiores, 87% dos incisivos laterais superiores, 79% dos caninos inferiores, 72% dos caninos superiores e 53% dos prémolares. Newman (1975) avaliou a reabsorção radicular em radiografias periapicais de 47 indivíduos, com idade média de 14,5 anos, totalizando 550 dentes superiores e 550 inferiores. Todos indivíduos deveriam ter no mínimo de 3 dentes com reabsorção apical moderada (raiz encurtada mais do que 2mm e menos do que 1/3 da raiz) e/ou severa (raiz encurtada igual ou mais do que 1/3 do comprimento radicular) em pelo menos 2 quadrantes diferentes e, verificou que a incidência de encurtamento radicular por grupos dentários, em ordem decrescente, foi: incisivos centrais superiores (83%), segundo pré-molares superiores (81,7%), incisivos laterais superiores (72,1%), primeiros pré-molares superiores (72%), segundos pré-molares inferiores (64,1%), incisivos centrais inferiores (48,9%). Da amostra total, 27 indivíduos tiveram tratamento ortodôntico e, após analisar as radiografias periapicais pré e pós-tratamento, relatou que 49,8% do dentes examinados mostraram mais reabsorção radicular. Malmgren et al. (1982) estudaram a freqüência e o grau de reabsorção radicular de incisivos traumatizados e que foram tratados ortodonticamente. Selecionaram 27 indivíduos, 15 do gênero masculino e 12 do feminino, 2. Revisão de Literatura 26 totalizando 55 incisivos traumatizados. Foram relatados os seguintes tipos de traumas: fratura de coroa envolvendo esmalte ou esmalte e dentina sem exposição pulpar, fratura de coroa com exposição de polpa, comprometimento periodontal sem fratura de coroa com sensibilidade à percussão, subluxacão e luxação. Antes do tratamento ortodôntico, todos os dentes foram radiografados e apresentaram o espaço periodontal e mobilidade normais. Desses indivíduos, 14 foram tratados com aparelho fixo, 10 com aparelho fixo e removível e 3 com aparelho removível. Também foi estudado um grupo controle formado por 55 indivíduos, 34 do gênero feminino e 21 do masculino, sem dentes traumatizados, que foram tratados com extração dos pré-molares e aparelho fixo, 33 pela técnica de “Edgewise” e 22 pela técnica de “Begg”. Verificaram que: os dentes traumatizados não têm uma maior tendência à reabsorção radicular durante o tratamento ortodôntico em relação aos dentes que não sofreram trauma; dentes traumatizados que apresentaram reabsorção antes do tratamento ortodôntico apresentaram maior reabsorção durante o tratamento do que aqueles que não apresentaram nenhum sinal de reabsorção. Linge e Linge (1983) analisaram radiografias periapicais de incisivos superiores pré e pós-tratamento ortodôntico de 719 indivíduos, 437 do gênero feminino e 282 do masculino, com idade inicial média de 12,8 anos, com tempo de tratamento médio de 3,6 anos. Relataram que: a quantidade de trespasses horizontal e vertical, o gênero e o tempo de tratamento não tiveram relação com a quantidade de reabsorção radicular; a presença de caninos superiores impactados, uso de elásticos de Classe II e arcos de fio retangular, incisivos que sofreram trauma antes do início do tratamento ortodôntico foram fatores de riscos para a reabsorção radicular. Dermaut e Demunck (1986) estudaram a reabsorção radicular em radiografias periapicais antes e depois da intrusão dos incisivos superiores, realizada pela técnica de arco segmentado de “Burstone” com força de 100g. Selecionaram 20 indivíduos para o grupo experimental, sendo 10 do gênero feminino e 10 do masculino, com idade média de 15 anos e tempo médio de tratamento de 29 semanas e, 15 indivíduos para o grupo controle, sendo 7 do gênero feminino e 8 do masculino, com idade média de 22 anos e não apresentaram tratamento ortodôntico. O grupo experimental apresentou em 2. Revisão de Literatura 27 média 3,6mm de intrusão e 2,5mm de reabsorção radicular, ao passo que, o grupo controle não apresentou reabsorção radicular. Copeland e Green (1986) estudaram a reabsorção radicular apical após o término do tratamento ortodôntico ativo. Selecionaram 45 indivíduos que tiveram tratamento ortodôntico realizado pela técnica “Edgewise”, sendo 32 do gênero feminino e 13 do masculino, com idade média inicial de 13 anos e 1 mês. O tempo médio do tratamento ativo foi de 2 anos e 10 meses e, o período médio entre o tempo de pós-tratamento ativo e pós-contenção foi de 2 anos e 4 meses. Mediram os incisivos centrais superiores em telerradiografias laterais realizadas em 3 fases: pré e pós-tratamento ortodôntico ativo, e pós-contenção. Verificaram que a quantidade média de reabsorção radicular pós-tratamento ativo foi de 2,93 mm, ao passo que, a quantidade de reabsorção radicular póscontenção foi de 0,1 mm. Relataram que a reabsorção radicular foi interrompida após o tratamento ortodôntico ativo. Sharpe et al. (1987) examinaram a relação da recidiva do apinhamento dentário com a reabsorção radicular e a crista alveolar. Selecionaram 36 indivíduos e dividiram em 2 grupos: o grupo de estudo caracterizava pelo apinhamento dos dentes ântero-inferiores de pelo menos 2mm e consistia de 18 indivíduos, sendo 12 do gênero feminino e 6 do masculino, com idade média inicial de 11,3 anos e tempo médio de tratamento de 43,3 meses; o grupo controle era composto de 18 indivíduos, sendo 6 do gênero feminino e 12 do masculino, com idade média inicial de 12,7 anos e tempo médio de tratamento de 31,5 meses. Analisaram radiografias periapicais e interproximais pré e póstratamento e pelo menos 10 anos pós-contenção e relataram que: a reabsorção radicular dos incisivos superiores estava relacionada com a quantidade de movimento de retração, e; a recidiva do tratamento ortodôntico pode estar relacionada com a diminuição do nível da crista óssea alveolar e a reabsorção radicular. Levander e Malmgren (1988) avaliaram a reabsorção radicular apical de 98 indivíduos, 55 do gênero masculino e 43 do feminino, com idade inicial média de 15 anos. Metade foi tratada pela técnica de “Edgewise”, num tempo médio de 19 meses e, a outra metade pela técnica de “Begg”, por um tempo médio de 20 meses. Realizaram radiografias periapicais dos incisivos centrais e laterais superiores pré-tratamento, após 6-9 meses de tratamento e ao final 2. Revisão de Literatura 28 do tratamento. Constataram que: raiz em forma de pipeta e raiz abaulada foram fatores de risco à reabsorção radicular; em raiz curva a, reabsorção envolveu a porção curva da raiz; as variáveis idade, tempo de tratamento, tempo de uso de elásticos de Classe II, torque e fios retangulares não foram relacionados com a quantidade de reabsorção radicular, e; não houve diferença significante no grau de reabsorção entre os indivíduos tratados com a técnica de “Edgewise” e a de “Begg”. Almeida, Henriques e Pinzan (1989) apresentaram uma revisão da literatura sobre a ação de possíveis agentes desencadeantes do encurtamento radicular durante a terapêutica ortodôntica, tais como, o tempo de tratamento, a quantidade de movimentação dentária, a magnitude de força empregada, a predisposição individual e o traumatismo. Relataram que o arredondamento do ápice radicular ocorre durante o tratamento ortodôntico, e; em casos de presença prévia de reabsorção radicular, a mecânica ortodôntica deve concentrar-se basicamente em aplicar forças suaves e realizar o mínimo de movimentação dentária necessária para propiciar um resultado mais estético e funcional possível. Goldin (1989) selecionou 17 indivíduos que tiveram tratamento ortodôntico pela técnica "Edgewise" e avaliou as telerradiografias laterais destes indivíduos, sendo 8 do gênero masculino e 9 do feminino, com idade inicial que variou de 8 a 15,7 anos. Os tratamentos consistiram de aplicação de torque vestibular de raiz dos incisivos centrais superiores num tempo médio de 0,63 ano e, o tempo total médio de tratamento foi de 2,52 anos. Relatou que o movimento e torque vestibular dos incisivos causaram reabsorção radicular e a diferença de gênero e idade não tiveram relação com a reabsorção radicular. Remington et al. (1989) avaliaram radiografias periapicais de todos dentes pré e pós-tratamento e 14,1 anos após o término do tratamento ortodôntico de 100 indivíduos, sendo 27 do gênero masculino e 73 do feminino, que tiveram reabsorção radicular apical durante a terapia ortodôntica. A idade média inicial da amostra foi de 13,6 anos e o tempo médio de tratamento de 2,2 anos. Verificaram que: logo após a remoção do aparelho fixo, o contorno apical apresentou-se irregular e tornou-se regular e arredondado após o período de pós-contenção; o comprimento e o contorno radicular não foram restabelecidos com os do pré-tratamento; os incisivos superiores tiveram maior freqüência e 2. Revisão de Literatura 29 extensão de reabsorção do que os outros dentes, e; a reabsorção radicular não progrediu após a remoção do aparelho fixo. McFadden et al. (1989) avaliaram a relação entre a intrusão dos incisivos superiores e inferiores e a reabsorção radicular em radiografias periapicais e lateral de cabeça pré e pós-tratamento de 38 indivíduos, com idade média inicial de 13,1 anos e tempo médio de tratamento de 28,8 meses. O tratamento foi baseado na filosofia bioprogressiva utilizando arco de intrusão para os incisivos superiores e inferiores. Os incisivos superiores sofreram intrusão média de 0,70mm e os inferiores de 0,85mm. A reabsorção radicular média encontrada foi de 1,84mm para os incisivos superiores e 0,61m para os inferiores. Constataram que: a quantidade de intrusão dos incisivos e a alteração do ângulo dos incisivos superiores e inferiores não estão relacionados com a reabsorção radicular, e; o tempo de tratamento ortodôntico e a predisposição individual são fatores relacionados com a reabsorção radicular. Linge e Linge (1991) analisaram as características pré-tratamento dos pacientes e relacionaram com a reabsorção radicular apical dos incisivos superiores. Estudaram radiografias periapicais pré e pós-tratamento ortodôntico de 485 indivíduos, 288 do gênero feminino e 197 do masculino, com idade variando de 11,5 a 25 anos e tempo médio de tratamento de 3,3 anos. Constataram que são fatores de risco para a reabsorção radicular externa: o trespasse horizontal aumentado e o traumatismo dos incisivos superiores ocorrido antes do início do tratamento ortodôntico; o tracionamento de caninos superiores impactados; o tempo de tratamento com fios retangulares, e; o tempo de tratamento com elástico intermaxilares. Barclay (1993) revisando a literatura verificou que a reabsorção radicular era resultante de estimulação mecânica, pressão radicular excessiva, infecção ou doença sistêmica. Relatou que a reabsorção radicular externa superficial, sem significante processo inflamatório, era mais comumente encontrada na região apical e geralmente ocorria em 90% dos dentes humanos; um dos fatores causadores da reabsorção radicular inflamatória era a pressão excessiva na superfície radicular, e; nas reabsorções radiculares inflamatórias externas, o processo de reparo deveria ser estimulado pela remoção dos 2. Revisão de Literatura 30 fatores etiológicos, como por exemplo, interrupção ou diminuição da força ortodôntica excessiva. Brezniak e Wasserstein (1993ab) realizaram uma revisão de literatura sobre a reabsorção radicular após o tratamento ortodôntico e relataram que: o paciente ou responsável deveria ser informado de que o encurtamento radicular poderia ser uma conseqüência do tratamento ortodôntico; as radiografias periapicais dos incisivos centrais superiores deveriam ser realizadas anualmente; a força ortodôntica deveria ser suave e intermitente; o planejamento ortodôntico deveria ser reavaliado ao ser detectada a reabsorção radicular; traumatismo oclusal e movimento de “vai-e-vem” eram prejudiciais às raízes. Silva Filho et al. (1993) avaliaram a reabsorção radicular conseqüente ao tratamento ortodôntico, analisando radiografias periapicais pré e póstratamento de 50 indivíduos, sendo 30 do gênero feminino e 20 do masculino, com idade inicial média de 14 anos e 3 meses e tempo de tratamento médio de 2 anos e 3 meses, utilizando as técnicas “Edgewise” e do arco reto. Constataram que: 1) 100% dos dentes apresentaram reabsorção radicular; os incisivos superiores tiveram um grau mais evidente de reabsorção, sem diferença para os incisivos laterais ou centrais. Harris, Robinson e Woods (1993) analisaram 306 indivíduos, que não foram tratados com aparelhos ortodônticos, 131 do gênero masculino e 175 do feminino, com idade média de 40 anos. Realizaram radiografias periapicais dos incisivos centrais superiores, caninos inferiores e segundos molares inferiores e, mediram o comprimento da raiz. Relataram que: em 7% a 10% dos indivíduos apresentaram reabsorção radicular, sendo que a maior freqüência ocorreu em dentes anteriores, e; o fator idade não teve relação direta com o processo. Beck e Harris (1994) avaliaram a reabsorção radicular apical de 83 indivíduos, com idade variando de 11 a 26 anos e má oclusão de Classe I, que foram tratados com extrações dos primeiros pré-molares superiores e inferiores, e foram divididos em 2 grupos: grupo 1, tratado pela técnica de “Begg” e o outro grupo pela técnica de “Tweed”. Analisaram as raízes dos incisivos centrais superiores em telerradiografias laterais pré e pós-tratamento. Verificaram que a freqüência de reabsorção radicular dos incisivos centrais 31 2. Revisão de Literatura superiores foi de 62%; não houve diferença de risco e grau de reabsorção radicular decorrente da técnica utilizada; o gênero e idade dos indivíduos e a duração do tratamento não tiveram relação com o grau de reabsorção; a quantidade de movimento dentário esteve relacionado com o grau de reabsorção; e o movimento de intrusão aumentou o risco de reabsorção. Levander, Malmgren e Eliasson (1994) analisaram 40 indivíduos, 15 do gênero masculino e 25 do feminino, que apresentaram reabsorção radicular nos incisivos superiores após 6 meses de tratamento ortodôntico pela técnica de "Edgewise". A amostra foi dividida em 2 grupos: no grupo I, com 32 dentes analisados, o tratamento teve continuidade segundo o plano original, e: no grupo II, com 30 dentes analisados, o tratamento foi interrompido durante 2 a 3 meses mantendo os arcos passivos e, após a pausa, o tratamento teve continuidade. Realizaram radiografias periapicais a cada 3 meses. Observaram que: a quantidade de reabsorção radicular foi significantemente menor no grupo 2 do que no grupo 1; o tipo de má oclusão, trauma dentário, tratamento com ou sem extrações de pré-molares, uso de arcos retangulares e de elásticos de Classe II e tempo total de tratamento não foram relacionados com a quantidade de reabsorção radicular. Martins, Cansanção e Sanchez (1994) avaliaram a progressão da reabsorção radicular após a remoção dos aparelhos em radiografias periapicais de todos os dentes, com exceção dos segundos e terceiros molares, ao final do tratamento e 5 anos pós-tratamento de 39 indivíduos, sendo 31 do gênero feminino e 8 do masculino, tratados pela técnica "Edgewise". Observaram que a reabsorção radicular cessou após o tratamento ortodôntico e mesmo quando a reabsorção apresentou alguma progressão, não foi contínua, pois ocorreu apenas pela remodelação apical. Sugeriram ajustes oclusais após 6 meses do término do tratamento. Mirabella e Ärtun (1995a) avaliaram radiografias periapicais e cefalogramas pré e pós-tratamento e mediram o grau de reabsorção radicular, movimento horizontal e vertical do ápice dos dentes ântero-superiores em 343 indivíduos com idade média de 34,5 anos e duração média de tratamento ortodôntico de 2 anos. Relataram que: dentes que serviram de apoio para a utilização de elástico de Classe II, o movimento radicular horizontal, raiz longa, raiz estreita, ápice pontiagudo ou dilacerado foram associados à reabsorção 2. Revisão de Literatura 32 radicular, e; tempo de tratamento e uso de arco retangular não tiveram relação com a reabsorção radicular. Mirabella e Ärtun (1995b) avaliaram a prevalência e a severidade da reabsorção radicular em 343 indivíduos, com idade média de 34,5 anos, que tiveram tratamento ortodôntico com aparelho fixo, num tempo de tratamento médio de 2 anos. Realizaram-se radiografias periapicais, pré e pós-tratamento, por meio da técnica do cone longo dos caninos, incisivos laterais e centrais superiores. Da amostra total: 31 indivíduos tiveram algum tratamento ortodôntico prévio, e; 39 dentes apresentaram tratamento endodôntico e foram comparados com seu par contralateral. Relataram que: 1) movimentos horizontais radiculares, raízes longas, raízes estreitas, ápice radicular com forma pontiaguda ou dilacerada e dentes de apoio para uso de elásticos intermaxilares foram fatores de risco para a reabsorção radicular apical; 2) características iniciais da má oclusão, tempo de tratamento e uso de fio retangular não apresentaram relação com a reabsorção radicular apical, e; 3) dentes com tratamento endodôntico foi um fator preventivo para a reabsorção radicular apical. Rupp (1995) realizou uma revisão da literatura sobre a reabsorção radicular relacionada ao tratamento ortodôntico. Verificou que é conveniente efetuar radiografias periapicais periódicas durante a terapia ortodôntica; ao ser detectada a reabsorção radicular, a mecânica deveria ser simplificada e reavaliada, e; deveria evitar forças pesadas. Owman-Moll, Kurol e Lundgren (1995) estudaram histologicamente o potencial de reparação da reabsorção radicular induzida por força ortodôntica. Utilizaram 64 primeiros pré-molares superiores de 32 indivíduos, sendo 15 do gênero masculino e 17 do feminino, com idade média de 13,7 anos, cujos dentes foram movimentados para vestibular com aparelho fixo ortodôntico, por meio de um arco segmentado, com força contínua de 50g, ativado semanalmente durante 6 semanas. Períodos de contenção com arco passivo variaram de 1 a 8 semanas. Verificaram que: 1) todos dentes apresentaram reabsorção radicular; 2) após 1 semana de contenção, 28% das reabsorções radiculares apresentaram algum grau de reparação, ao passo que, esse número aumentou para 75%, após 8 semanas; 3) houve uma grande variação individual na extensão e no grau de reparação da reabsorção radicular. 2. Revisão de Literatura 33 Owman-Moll, Kurol e Lundgren (1996) realizaram um estudo histológico para comparar os efeitos de forças ortodônticas em movimentações dentárias e reabsorções radiculares. Selecionaram 32 indivíduos, sendo 14 do gênero masculino e 18 do feminino, com idade média de 13,1 anos, que necessitavam de tratamento ortodôntico com extração dos primeiros pré-molares superiores. Nesta pesquisa, utilizaram os primeiros pré-molares superiores direitos, que seriam extraídos, para movimentá-los para vestibular por meio de um arco segmentado. Uma força contínua controlada semanalmente de 50g foi aplicada em 16 pré-molares e, uma força de 100g para os outros dezesseis. Os prémolares foram extraídos após 4 e 7 semanas da aplicação da força. Constataram que houve uma grande variação individual nas reabsorções radiculares e na quantidade de movimento dentário. Costopoulos e Nanda (1996) estudaram a relação entre a reabsorção radicular apical e a intrusão ortodôntica dos incisivos superiores em telerradiografias laterais e radiografias periapicais pré e pós-intrusão. Selecionaram um grupo controle composto por 17 indivíduos com idade inicial média de 16,1 anos e, um grupo experimental composto por 17 pacientes com idade inicial média de 16,4 anos. O grupo controle recebeu aparelho fixo sem arco base de intrusão, ao passo que, o grupo experimental necessitava de correção do trespasse vertical de 2 a 4 mm e foram tratados com arco de intrusão, com fio de TMA .017”x .025”, com força de 15g por dente. O tempo de intrusão médio foi de 4 meses. No grupo experimental houve a intrusão média de 1,9mm e reabsorção radicular apical média de 0,6mm e, no grupo controle houve reabsorção média de 0,2mm. Relataram que os movimentos de intrusão com forças leves poderiam ser efetivos para reduzir o trespasse vertical causando pequena reabsorção radicular. Harris, Kineret e Tolley (1997) analisaram o componente hereditário para reabsorção radicular apical em pacientes tratados ortodonticamente. A amostra foi composta de 206 indivíduos, 84 do gênero masculino e 122 do feminino, constituindo 103 pares de irmãos, com idade inicial média de 14,1 anos para o masculino e 13,3 anos para o feminino, sendo que, 30% apresentavam má oclusão de Classe I, 63% de Classe II e 7% de Classe III. Todos foram tratados pela técnica “Edgewise”, com tempo de tratamento médio de 2,4 anos, e ¼ da amostra foi tratada sem extração dentária. Os 34 2. Revisão de Literatura comprimentos dentários dos incisivos centrais superiores e inferiores foram medidos em telerradiografias laterais pré e pós-tratamento, e os comprimentos das raízes mesiais e distais dos primeiros molares inferiores foram medidos em radiografias panorâmicas. Relataram que: houve um fator genético em susceptibilidade à reabsorção radicular apical externa, e; não evidenciou diferença para gênero e idade, em relação à susceptibilidade à reabsorção radicular. Tavares e Sampaio (1997) realizaram uma revisão de literatura a respeito da reabsorção radicular externa, sobretudo decorrente do tratamento ortodôntico. Abordaram diversos aspectos, como os fatores que afetam a reabsorção radicular e os fatores da mecânica ortodôntica que influenciam na reabsorção radicular. Fizeram algumas recomendações clínicas, principalmente, em relação ao tratamento ortodôntico: o paciente ou seus responsáveis deveriam ser informados dos riscos de encurtamento radicular; realizar controles radiográficos periodicamente; as forças utilizadas deveriam ser leves e intermitentes, e; o tratamento deveria ser avaliado e replanejado, ao ser detectado a reabsorção radicular. Parker et al. (1998) analisaram a quantidade de movimentos incisais e apicais dos incisivos centrais superiores nos planos sagitais e verticais, e verificaram quais movimentos dentários e relações dentoesqueléticas possuíam predisposição à reabsorção radicular apical externa. A amostra consistiu de 110 indivíduos, 47 do gênero masculino e 63 do feminino, com idade inicial média de 13,4 anos. Todos indivíduos apresentavam má oclusão de Classe I e foram tratados com extração dos quatro primeiros pré-molares, com tempo de tratamento médio de 2,7 anos, sendo que 41 indivíduos foram tratados pela técnica de “Tweed”, 29 pela técnica de “Begg” e 40 pela técnica de arco reto, prescrição Roth. Obtiveram telerradiografias laterais antes, durante e após o tratamento ortodôntico e relataram que: 1) não houve diferença estatística na quantidade de reabsorção radicular apical entre os gêneros e entre as técnicas ortodônticas utilizadas; 2) movimentos de intrusão e torque lingual de raiz dos incisivos superiores causaram mais reabsorção radicular; 3) características morfológicas faciais não tiveram relação com a reabsorção radicular dos incisivos superiores, e; 4) movimentos de retração 35 2. Revisão de Literatura dos dentes anteriores, extrusão ou inclinação lingual de coroa dentária não foram significantemente associados à reabsorção radicular externa. Acar et al. (1999) compararam os efeitos da aplicação de forças ortodônticas contínuas e intermitentes nas reabsorções radiculares. Selecionaram 22 primeiros pré-molares, que seriam extraídos em tratamento ortodôntico, de 8 indivíduos com idade variando de 15 a 23 anos. Foram utilizados elásticos, que liberavam forças de 100g, dos primeiros pré-molares até um arco segmentado, por vestibular. Os elásticos foram trocados diariamente, sendo que, de um lado, usaram-se elásticos 24h/dia e, do outro lado, usaram-se 12h/dia. Calibraram-se as forças semanalmente durante 9 semanas, quando os pré-molares foram extraídos. Relataram que: na aplicação de força contínua, 40% das raízes tiveram arredondamento apical e 60% reabsorção apical moderada, e; na aplicação de força intermitente, 20% das raízes não mostraram alteração apical, 40% arredondamento apical e 40% reabsorção moderada. McNab et al. (2000) relacionaram o tipo de aparelho e extração dentária com a incidência de reabsorção radicular em dentes posteriores após o tratamento ortodôntico de 97 indivíduos, com idade média inicial de 13,9 anos. Analisaram radiografias panorâmicas antes e após o tratamento. Aproximadamente 60% destes indivíduos foram tratados com extrações dentárias e, 74% utilizaram aparelhos da técnica “Edgewise” e 26% com a técnica de “Begg”. Relataram que a incidência de reabsorção radicular nos dentes posteriores foi maior na técnica de “Begg”; houve maior incidência de reabsorção nos casos com extrações dentárias, e; os molares sofreram maior reabsorção radicular do que os pré-molares, devido ao maior esforço mecânico sobre os molares por um maior período de tempo. Sameshima e Sinclair (2001a) realizaram um estudo para determinar fatores relacionados à reabsorção radicular antes de iniciar o tratamento ortodôntico. Selecionaram 868 indivíduos que foram tratados com aparelhos ortodônticos fixos, pela técnica “Edgewise”, de 6 consultórios diferentes, e avaliaram telerradiografias laterais e radiografias periapicais, de primeiro molar a primeiro molar de ambos arcos dentários, pré e pós-tratamento. Verificaram que: 1) não houve diferença significante para os dentes posteriores superiores e inferiores; 2) na região anterior, os dentes superiores tiveram mais 2. Revisão de Literatura 36 reabsorção radicular que os inferiores; 3) os dentes com maior reabsorção radicular foram os incisivos laterais superiores, seguidos dos incisivos centrais superiores e caninos superiores; 4) dentes com forma radicular anormal (dilacerada, pontiaguda, pipeta) tiveram maior tendência à reabsorção; 5) trespasse horizontal aumentado relacionou-se com maior reabsorção radicular. Em 2001, Sameshima e Sinclair (2001b) avaliaram os fatores associados à reabsorção radicular após o tratamento ortodôntico. Utilizaram a amostra da primeira parte desse estudo (SAMESHIMA e SINCLAIR, 2001a) e avaliaram a reabsorção em radiografias periapicais pré e pós-tratamento, e os deslocamentos horizontal e vertical dos ápices dos incisivos centrais superiores foram analisados em telerradiografias laterais. Mostraram que: a duração do tratamento e o deslocamento horizontal dos ápices dos incisivos centrais superiores estiveram associados à reabsorção radicular; não houve diferença para a medida da canaleta dos acessórios, tipo de fio ortodôntico, uso de elásticos e tipos de expansão; houve variação entre os 6 consultórios examinados, e; tratamento com extração de 4 primeiros pré-molares apresentou maior reabsorção radicular em relação ao tratamento sem extração dentária. Brezniak e Wasserstein (2002a) discutiram os aspectos básicos da reabsorção radicular inflamatória induzida ortodonticamente e citaram que há o processo de reabsorção ao passo que houver a presença de tecido hialino e/ou até que o nível de força ortodôntica diminua e, o processo de reparação inicia aproximadamente 2 semanas após a remoção desta força. Brezniak e Wasserstein (2002b) apresentaram os aspectos clínicos da reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico. Relataram que os pacientes ou responsáveis deveriam ser orientados sobre o risco da reabsorção radicular conseqüente ao tratamento ortodôntico; os movimentos ortodônticos de “vai-e-vem” e o uso de elásticos intermaxilares aumentavam o risco de reabsorção radicular. Brin et al. (2003) examinaram radiografias periapicais pré e póstratamento dos incisivos superiores de 138 indivíduos pré-adolescentes com má-oclusão de Classe II com trespasse horizontal maior que 7mm, dos quais 49 indivíduos foram tratados somente com aparelhos fixos, 49 indivíduos foram tratados com aparelho extrabucal na primeira fase e aparelho fixo na segunda 2. Revisão de Literatura 37 fase e os 40 indivíduos restantes foram tratados com Bionator na primeira fase e aparelho fixo na segunda fase. Os indivíduos que foram tratados com aparelho extrabucal e Bionator iniciaram o tratamento na dentadura mista, ao passo que, aqueles que foram tratados somente com aparelho fixo iniciaram o tratamento na dentadura permanente. Relataram que: os indivíduos que foram tratados em duas fases apresentaram menor quantidade de reabsorção radicular apical em incisivos; houve uma maior prevalência de reabsorção em dentes com raízes de formato anômalo, e; quanto maior o trespasse horizontal e o tempo de tratamento, maior a prevalência de reabsorção radicular apical. Kook, Park e Sameshima (2003) examinaram a frequência, a extensão e fatores de risco da reabsorção radicular em incisivos laterais superiores conóides ou pequenos e compará-los aos incisivos laterais com formas normais. Selecionaram radiografias periapicais pré e pós-tratamento com aparelho ortodôntico fixo de 114 indivíduos, que apresentavam a coroa de um incisivo lateral superior conóide ou pequeno e o outro com forma normal. Analisaram que: não houve diferença na reabsorção radicular entre os incisivos laterais conóides e incisivos laterais com formas normais; não ocorreu diferença de reabsorção radicular para raízes largas ou estreitas; em tratamento ortodôntico com extração dentária houve aumento de reabsorção radicular em incisivos laterais superiores. Weiland (2003) estudou histologicamente 84 pré-molares de 27 indivíduos, sendo 10 do gênero masculino e 17 do feminino, com idade média de 12,5 anos e que foram tratados com extrações de pré-molares. Antes da extração, de um lado, os pré-molares foram movimentados por meio de um arco segmentado de aço de .016”, com uma dobra para vestibular (“off set”) de 1mm reativado de 4 em 4 semanas e, do lado outro lado, os pré-molares foram movimentados por um arco segmentado de fio superelástico de .016”, com uma única ativação de 4,5mm com uma força de 100g para vestibular. Os dentes foram extraídos após 12 semanas e, 6 pré-molares que precisavam ser extraídos unilateralmente foram utilizados como grupo controle. Relatou que: os dentes ativados com fio superelástico tiveram maior movimentação que os ativados com fio de aço, e; a quantidade de reabsorção radicular foi significantemente maior no uso de fio superelástico. 38 2. Revisão de Literatura Segal, Schiffman e Tuncay (2004) tentaram elucidar a relação da duração do tempo de tratamento ortodôntico e deslocamento apical com a reabsorção radicular apical. Selecionaram artigos na literatura disponível em língua inglesa, com tamanho de amostra maior que 10 indivíduos, que utilizaram aparelho ortodôntico fixo e mensuraram o deslocamento apical e a reabsorção radicular apical dos incisivos superiores em radiografias pré e póstratamento. Excluíram estudos que incluíram amostra com história de trauma dentário ou tratamento endodôntico. Dos 9 artigos encontrados, observaram que a reabsorção radicular apical apresentou uma forte correlação com o deslocamento apical dos incisivos superiores e a duração do tratamento ortodôntico. Sameshima e Sinclair (2004) analisaram radiografias periapicais e telerradiografias laterais, pré e pós-tratamento ortodôntico, de 868 indivíduos tratados em seis consultórios particulares. Encontraram 25 casos com os 4 incisivos superiores com reabsorção maior que 25%. Cinqüenta casos foram emparelhados por gênero, idade inicial de tratamento, etnia, tempo de tratamento e consultório em que foi realizado o tratamento. No grupo dos casos severos, a idade inicial foi de 15,2 anos, com duração de tratamento de 29 meses e, no grupo emparelhado, a idade inicial foi de 15,5 anos , com duração de tratamento de 28 meses. Relataram que não houve diferença estatisticamente significante para: extrações dentárias, uso de elásticos de Classe II e de finalização, expansão da maxila, trespasse horizontal e vertical, movimento de intrusão ou extrusão de incisivos superiores, comprimento de raízes, tamanho da canaleta dos acessórios e tipo de fio ortodôntico utilizado. Citaram que o deslocamento horizontal das raízes, pressão excessiva da língua e forma radicular anômala poderiam representar um risco maior para reabsorção radicular. Otis, Hong e Tuncay (2004) analisaram telerradiografias laterais pré e pós-tratamento ortodôntico de 22 indivíduos, sendo 12 do gênero feminino e 10 do masculino, com idade inicial média de 14,9 anos e, tempo de tratamento médio de 26,1 meses. Analisaram se a forma e a densidade do osso alveolar promoveriam a reabsorção radicular apical externa decorrente do tratamento ortodôntico e verificaram que a forma e densidade óssea não foram fatores significantes na etiologia da reabsorção radicular apical. 2. Revisão de Literatura 39 Han et. al (2005) estudaram a reabsorção radicular após a aplicação de forças contínuas de intrusão e extrusão. Compararam um grupo controle composto por 11 pré-molares extraídos previamente ao tratamento ortodôntico de 6 indivíduos, com idade variando de 12 a 20 anos, com um grupo experimental composto por 18 pré-molares de 9 indivíduos, 5 do gênero feminino e 4 do masculino, com idade média de 15,3 anos. No grupo experimental, no pré-molar de um lado de cada indivíduo foi aplicada força intrusiva e no pré-molar do lado oposto foi aplicada força extrusiva. O aparelho utilizado na maxila foi o arco utilidade .017”x .025” de aço com braço lateral de extrusão de um lado e braço de intrusão do outro lado, botão vestibular em prémolares e elásticos que aplicavam força de 100g, trocados diariamente durante 8 semanas. Ao final de 8 semanas, os pré-molares foram extraídos e suas raízes foram examinadas em microscópio eletrônico. Observaram que: todos os dentes do grupo experimental e 5 dentes do grupo controle apresentaram algum grau de reabsorção; a força intrusiva induziu 4 vezes mais reabsorção radicular em relação à força extrusiva; houve uma grande variação individual no grau de reabsorção radicular, e; os pacientes deveriam ser informados sobre o risco de reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico. Smale et al. (2005) analisaram a reabsorção radicular apical em radiografias periapicais realizadas antes do tratamento ortodôntico e após aproximadamente 6,4 meses de tratamento. A amostra consistia de 290 indivíduos, sendo 191 do gênero feminino e 99 do masculino, com idade média inicial de 19,2 anos, tratados com aparelhos ortodônticos fixos pré-ajustados. Constataram que: 1) a reabsorção radicular média dos incisivos centrais e laterais superiores foi de 0,48mm e 0,59mm, respectivamente; 2) incisivos centrais com raízes dilaceradas e incisivos laterais com raízes estreitas e longas foram fatores de risco para reabsorção radicular, e; fios ortodônticos retangulares, história de trauma dentário e incisivos com irregularidade na forma da coroa não foram fatores de risco para a reabsorção radicular. 3. PROPOSIÇÃO 3. Proposição 41 3 - PROPOSIÇÃO Este trabalho propôs em realizar uma revisão de literatura sobre a reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico, considerando a morfologia radicular, os tipos de movimentos ortodônticos, intensidade e duração da força ortodôntica e técnicas ortodônticas. 4. DISCUSSÃO 43 4. Discussão 4 – DISCUSSÃO 4.1 – Considerações gerais sobre a reabsorção radicular Em 1932, Becks e Marshall realizaram uma extensa revisão de literatura e concluíram que em todos casos em que tecidos são destruídos e substituídos por corrente sanguíneo ou linfático deve-se, em literatura médica e odontológica, utilizar o termo reabsorção. Então, a palavra apropriada para descrever a perda radicular apical é reabsorção. A reabsorção radicular é uma conseqüência iatrogênica inevitável do tratamento ortodôntico (MASSLER; MALONE, 1954; REITAN, 1974; LINGE; LINGE, 1983; COPELAND; GREEN, 1986; ALMEIDA; HENRIQUES; PINZAN, 1989; GOLDIN, 1989; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993a; SILVA FILHO et al., 1993; BECK; HARRIS, 1994; COSTOPOULOS; NANDA, 1996; PARKER et al., 1998; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002a; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SMALE et al., 2005) e tem recebido atenção considerável devido à exposição médico-legal (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993a; TAVARES; SAMPAIO, 1997). Agentes etiológicos como a susceptibilidade individual (MASSLER; MALONE, 1954; McFADDEN et al, 1989; LINGE; LINGE, 1991; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993ab; HARRIS; ROBINSON; WOODS,1993; OWMANMOLL; KUROL; LUNDGREN, 1996; TAVARES; SAMPAIO, 1997; PARKER et al., 1998; SEGAL; SCHIFFMAN; TUNCAY, 2004; HAN et al., 2005), predisposição hereditária (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993ab; TAVARES; SAMPAIO, 1997), fatores locais (LINGE; LINGE, 1991; BARCLAY, 1993; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993ab; HARRIS; ROBINSON; WOODS,1993; TAVARES; SAMPAIO, 1997; BRIN et al., 2003;), sistêmicos (BARCLAY, 1993; BREZNIAK; WASSERSTEIN, anatômicos (PHILLIPS, WASSERSTEIN, 1993ab; 1993ab; 1955; LINGE; MIRABELLA; TAVARES; LINGE, ÄRTUN, SAMPAIO, 1997), 1991; BREZNIAK; 1995ab; TAVARES; SAMPAIO, 1997; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001ab; BRIN et al., 2003; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004), idiopáticos (MASSLER; MALONE, 1954; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993ab;) e o tratamento ortodôntico (MASSLER; 44 4. Discussão MALONE, 1954; PHILLIPS, 1955; REITAN, 1974; LINGE; LINGE, 1983; COPELAND; GREEN, 1986; DERMAUT; DEMUNCK, 1986; SHARPE et al., 1987; LEVANDER; MALMGREN, 1988; GOLDIN, 1989; REMINGTON et al., 1989; McFADDEN et al, 1989; LINGE; LINGE, 1991; SILVA FILHO et al., 1993; BARCLAY, 1993; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993ab; BECK; HARRIS, 1994; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; MARTINS; CANSANÇÃO; SANCHEZ, 1994; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; COSTOPOULOS; NANDA, 1996; TAVARES; SAMPAIO, 1997; McNAB et al., 2000; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001ab; BRIN et al., 2003; WEILAND, 2003; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SEGAL; SCHIFFMAN; TUNCAY, 2004; SMALE et al., 2005) são componentes comumente citados na literatura. A maioria da reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico não compromete a longevidade nem a capacidade funcional dos dentes envolvidos (PHILLIPS, 1955; REMINGTON, et al., 1989; SILVA FILHO et al., 1993; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993a; MARTINS; CANSANÇÃO; SANCHEZ, 1994 TAVARES; SAMPAIO, 1997). No entanto, Brezniak e Wasserstein (1993b), Rupp (1995), Tavares e Sampaio (1997), Brezniak e Wasserstein (2002b) e Han et al. (2005), relataram que os pacientes ou responsáveis devem ser orientados sobre o risco da reabsorção radicular conseqüente ao tratamento ortodôntico. Em 1941, Hemley observou que: 21,5% dos indivíduos tratados com aparelhos ortodônticos apresentaram reabsorção radicular; os incisivos centrais inferiores foram mais suscetíveis que os incisivos centrais superiores, os incisivos laterais superiores foram mais suscetíveis que os inferiores, os caninos superiores foram mais suscetíveis que os inferiores, os pré-molares inferiores não sofreram reabsorção e que os primeiros pré-molares superiores foram mais suscetíveis que os segundos pré-molares superiores. Phillips (1955) mostrou que, após o tratamento ortodôntico, os dentes mais susceptíveis à reabsorção radicular, em ordem decrescente, foram os incisivos centrais superiores (84,1%), incisivos laterais superiores (83,2%), incisivos centrais inferiores (71,7%), incisivos laterais inferiores (65,9%), caninos superiores (27,6%), caninos inferiores (18%). Remington et al. (1989) citaram que os incisivos superiores tiveram maior freqüência e extensão de reabsorção do que os outros dentes. Newman (1975) verificou que a incidência de 4. Discussão 45 encurtamento radicular por grupos dentários, em ordem decrescente, foi: incisivos centrais superiores (83%), segundo pré-molares superiores (81,7%), incisivos laterais superiores (72,1%), primeiros pré-molares superiores (72%), segundos pré-molares inferiores (64,1%), incisivos centrais inferiores (48,9%). Goldson e Henrikson (1975) verificaram que a incidência de reabsorção radicular após 6 meses de finalizado o tratamento ortodôntico foi de 95% dos incisivos centrais inferiores, 90% dos incisivos centrais superiores, 87% dos incisivos laterais superiores, 79% dos caninos inferiores, 72% dos caninos superiores e 53% dos pré-molares. Silva Filho et al. (1993) constataram que os incisivos superiores, sem diferença para os laterais ou centrais, tiveram um grau mais evidente de reabsorção que outros dentes. Beck e Harris (1994) relataram que a reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico ocorreu em 62% dos incisivos centrais superiores. Sameshima e Sinclair (2001a) relataram que a raiz mais reabsorvida decorrente do tratamento ortodôntico foi a do incisivo lateral superior, seguida do incisivo central superior e canino superior Massler e Malone (1954) analisaram radiografias periapicais de todos os dentes 708 indivíduos com idade variando entre 12 e 49 anos e que não receberam tratamento ortodôntico e constataram que todos os indivíduos apresentaram algum grau de reabsorção radicular apical, apenas 1,6% dos dentes examinados não apresentaram evidências de reabsorção radicular apical e os incisivos inferiores foram mais suscetíveis à reabsorção radicular seguidos dos incisivos laterais superiores, pré-molares, incisivos centrais superiores e caninos superiores. Neste mesmo trabalho, Massler e Malone (1954) avaliaram radiografias periapicais de 81 indivíduos que receberam tratamento ortodôntico pela técnica “Edgewise” e verificaram que ocorreu reabsorção radicular em 93,3% dos dentes e os dentes mais suscetíveis foram os incisivos superiores e inferiores, seguidos dos primeiros molares superiores, pré-molares superiores e caninos superiores. Em um estudo radiográfico com indivíduos que não foram submetidos ao tratamento ortodôntico, Harris, Robinson e Woods (1993) constataram que de 7% a 10% dos indivíduos apresentaram reabsorção radicular, e a maior freqüência de reabsorção ocorreu em dentes anteriores. 46 4. Discussão Após o tratamento ortodôntico, 49,8% dos dentes examinados, por meio de radiografias periapicais, mostraram mais reabsorção radicular (NEWMAN, 1975). Porém, outros estudos (MASSLER; MALONE, 1954; SILVA FILHO et al., 1993), 100% dos dentes tratados ortodonticamente apresentaram reabsorção radicular. Henry e Weinmann (1951) verificaram, em um estudo histológico de 261 dentes extraídos de 15 cadáveres, que 90,5% dos dentes mostraram evidência de reabsorção radicular, a susceptibilidade à reabsorção radicular aumentou com a idade e a reabsorção no 1/3 apical ocorreu em 76,8%. Alguns autores analisaram o componente hereditário para reabsorção radicular apical em pacientes tratados ortodonticamente e relataram que houve um fator genético em suscetibilidade à reabsorção radicular apical externa (HARRIS; KINERET; TOLLEY, 1997), mas não evidenciou diferença para o gênero (MASSLER; MALONE, 1954; PHILLIPS, 1955; LINGE; LINGE, 1983; LEVANDER; MALMGREN, 1988; GOLDIN, 1989; McFADDEN et al, 1989; BECK; HARRIS, 1994; OWMAN-MOLL; KUROL; LUNDGREN, 1996; HARRIS; KINERET; TOLLEY, 1997) nem a idade (GOLDIN, 1989; McFADDEN et al, 1989; HARRIS; ROBINSON; WOODS, 1993; BECK; HARRIS, 1994; HARRIS; KINERET; TOLLEY, 1997; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001a), em relação com a suscetibilidade à reabsorção radicular. Porém, alguns pesquisadores verificaram que a freqüência de reabsorção severa aumentou com a idade (MASSLER; MALONE, 1954) e que o número de áreas de reabsorção e a susceptibilidade aumentou com a idade (RUDOLPH, 1940; HENRY; WEINMANN, 1951). Linge e Linge (1991) constataram que o hábito de sucção digital e a disfunção muscular da língua e lábios foram relacionados com a reabsorção radicular dos dentes anteriores. Para facilitar a elucidação dos fatores etiológicos da reabsorção radicular de importância na Ortodontia, este trabalho dividiu a discussão considerando os seguintes fatores: forma da raiz, densidade óssea e morfologia coronária; tipos de movimento; tipos de força; extrações dentárias; tipos de tratamento; tempo de tratamento e quantidade de movimento; cuidados após constatação da reabsorção radicular; recomendações prévias. 47 4. Discussão 4.2 – Forma da raiz, densidade óssea e morfologia coronária Não houve diferença na reabsorção radicular, em tratamento ortodôntico, entre os incisivos laterais conóides e incisivos laterais com formas normais (KOOK; PARK; SAMESHIMA, 2003), nem para raízes largas ou estreitas em incisivos laterais superiores (KOOK; PARK; SAMESHIMA, 2003). Contudo, incisivos laterais superiores com raízes dilaceradas, pontiagudas ou em forma de pipeta apresentaram maior reabsorção radicular após tratamento ortodôntico (MALMGREN, 1988; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001a; BRIN et al., 2003; LEVANDER; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004). Outras pesquisas constataram que incisivos centrais com raízes dilaceradas (LEVANDER; MALMGREN, 1988; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; BRIN et al., 2003; SMALE et al., 2005) e incisivos laterais com raízes estreitas e longas (MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; BRIN et al., 2003; SMALE et al., 2005) foram fatores de risco para reabsorção radicular. Incisivo superior com irregularidade na forma da coroa não foi fator de risco para a reabsorção radicular (SMALE et al., 2005). Otis, Hong e Tuncay (2004) verificaram que a forma e a densidade do osso alveolar não foram fatores significantes na etiologia da reabsorção radicular apical externa decorrente do tratamento ortodôntico fixo. Os dentes traumatizados não tiveram uma maior tendência à reabsorção radicular durante o tratamento ortodôntico em relação aos dentes que não sofreram trauma (MALMGREN et al., 1982; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; BRIN et al., 2003; SMALE et al., 2005) e, dentes traumatizados que apresentaram reabsorção antes do tratamento ortodôntico apresentaram maior reabsorção durante o tratamento do que aqueles que não apresentaram nenhum sinal de reabsorção antes do tratamento (MALMGREN et al., 1982). Por outro lado, outra pesquisa (LINGE; LINGE, 1983) relatou que o trauma dentário de incisivos superiores previamente ao tratamento ortodôntico foi considerado um fator de risco à reabsorção radicular. 4.3 – Tipos de movimento e tratamento 48 4. Discussão Os movimentos WASSERSTEIN, 1993b; ortodônticos de “vai-e-vem” MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; (BREZNIAK; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002b) e o uso de elásticos intermaxilares aumentam o risco de reabsorção radicular (LINGE; LINGE, 1983; LINGE; LINGE, 1991; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002b). Em outras pesquisas (LEVANDER; MALMGREN, 1988; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004), o uso de elásticos intermaxilares não apresentou relação com a reabsorção radicular. Os movimentos de extrusão (REITAN, 1974; HAN et al., 2005), intrusão (REITAN, 1974; DERMAUT; DEMUNCK, 1986; BECK; HARRIS, 1994; PARKER et al., 1998; HAN et al., 2005) e inclinação (REITAN, 1974; GOLDIN, 1989; PARKER et al., 1998) estiveram relacionados com a reabsorção radicular apical. Em controvérsias constatou-se que os movimentos de extrusão ou inclinação lingual de coroa dentária não foram associados à reabsorção radicular externa dos incisivos centrais superiores (PARKER et al., 1998), mas o torque lingual das raízes dos incisivos centrais superiores foram fatores de risco à reabsorção radicular (GOLDIN, 1989; PARKER et al., 1998), e; outros trabalhos (McFADDEN et al., 1989; COSTOPOULOS; NANDA, 1996) relataram que a intrusão dos incisivos superiores não foi relacionada com a reabsorção radicular. O tracionamento de caninos superiores impactados também é um fator de risco para a reabsorção radicular apical dos incisivos laterais superiores (LINGE; LINGE, 1983; LINGE; LINGE, 1991). Não houve diferença de reabsorção radicular para a medida da canaleta dos acessórios, tipo de fio ortodôntico e uso de elásticos (LEVANDER; MALMGREN, 1988; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SMALE et al., 2005). O uso de fio retangular não apresentou relação com a reabsorção radicular apical (LEVANDER; MALMGREN, 1988; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SMALE et al., 2005). Entretanto, o tempo de utilização de fio retangular (LINGE; LINGE, 1983; LINGE; LINGE, 1991) e o torque lingual (PARKER et al., 1998) e o vestibular (LEVANDER; 49 4. Discussão MALMGREN, 1988) das raízes dos incisivos centrais superiores foram fatores de risco à reabsorção radicular, principalmente quando houve proximidade do osso cortical. A incidência de reabsorção radicular nos dentes posteriores foi maior na técnica de “Begg” do que na técnica “Edgewise” (McNAB et al., 2000). No entanto, outras pesquisas relataram que a frequëncia de reabsorção radicular em dentes anteriores e posteriores foi a mesma, tanto na técnica de ”Edgewise” como na técnica de “Begg” (MALMGREN et al., 1982; LEVANDER; MALMGREN, 1988; BECK; HARRIS, 1994). Em outro estudo (PARKER et al., 1998) não houve diferença na reabsorção radicular apical entre a técnica de “Tweed”, a técnica de” Begg” e a técnica de arco reto, prescrição Roth. 4.4 – Tipos de força Acar et al. (1999) verificaram que, na aplicação de força contínua, 40% das raízes tiveram arredondamento apical e 60% reabsorção apical moderada, e; na aplicação de força intermitente, 20% das raízes não mostraram alteração apical, 40% arredondamento apical e 40% reabsorção moderada. Segundo Brezniak e Wasserstein (1993b) e Tavares e Sampaio (1997), a força ortodôntica deve ser suave e intermitente. Weiland (2003) citou que a quantidade de reabsorção radicular foi significantemente maior no uso de fio superelástico em relação ao fio de aço, ou seja, uma força contínua promoveu maior reabsorção radicular que uma força intermitente. 4.5 – Extrações dentárias Em tratamento ortodôntico com extração dentária houve aumento de reabsorção radicular em incisivos laterais superiores (KOOK; PARK; SAMESHIMA, 2003) e incisivos centrais superiores (SHARPE et al., 1987; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b). Outros trabalhos (McFADDEN et al., 1989; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004) citaram que não teve diferença estatisticamente significante para casos com extrações dentárias, mas o movimento horizontal das raízes dos incisivos 50 4. Discussão superiores poderia estimar um risco maior de reabsorção radicular (LINGE; LINGE, 1991; BECK; HARRIS, 1994; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; BRIN et al., 2003; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SEGAL; SCHIFFMAN; TUNCAY, 2004). 4.6 – Tempo de tratamento e quantidade de movimento O tempo de tratamento (PHILLIPS, 1955; LEVANDER; MALMGREN, 1988; BECK; HARRIS, 1994; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab) e a quantidade de movimento ortodôntico (PHILLIPS, 1955; LINGE; LINGE, 1983) não mostraram relação com a reabsorção radicular. Outros trabalhos mostraram que a duração do tratamento (RUDOLPH, 1940; LINGE; LINGE, 1983; McFADDEN et al., 1989; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b; BRIN et al., 2003; SEGAL; SCHIFFMAN; TUNCAY, 2004) e a quantidade de deslocamento horizontal radicular apical dos incisivos superiores (SHARPE et al., 1987; BECK; HARRIS, 1994; MIRABELLA; ÄRTUN, 1995ab; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001ab; BRIN et al., 2003; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; SEGAL; SCHIFFMAN; TUNCAY, 2004) tiveram correlação forte com a reabsorção radicular. Entretanto, outra pesquisa relatou que movimentos de retração dos dentes anteriores, extrusão ou inclinação lingual de coroa dentária não foram significantemente associados à reabsorção radicular externa dos incisivos centrais superiores (PARKER et al., 1998). Segundo um estudo histológico (WEILAND, 2003), a quantidade de movimentação ortodôntica e a reabsorção radicular foram correlacionadas. 4.7 – Cuidados após constatação da reabsorção radicular Houve uma grande variação individual na extensão (OWMAN-MOLL; KUROL; LUNDGREN, 1995; WEILAND, 2003; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2004; HAN et al., 2005) e no grau de reparação (OWMAN-MOLL; KUROL; LUNDGREN, 1995) da reabsorção radicular induzida ortodonticamente. Após a remoção da força ortodôntica, inicia-se o processo de reparação da reabsorção radicular (COPELAND; GREEN, 1986; REMINGTON, et al., 51 4. Discussão 1989; BARCLAY, 1993; BECK; HARRIS, 1994; MARTINS; CANSANÇÃO; SANCHEZ, 1994; OWMAN-MOLL; KUROL; LUNDGREN, 1995; BREZNIAK; WASSERSTEIN, 2002a), a reabsorção radicular não progrediu após a remoção do aparelho fixo (COPELAND; GREEN, 1986; REMINGTON, et al., 1989; MARTINS; CANSANÇÃO; SANCHEZ, 1994) e o comprimento e o contorno radicular não foram restabelecidos em relação com os do pré-tratamento ortodôntico (REMINGTON, et al., 1989). Levander, Malmgren e Eliasson (1994), estudaram indivíduos que apresentaram reabsorção radicular nos incisivos superiores após 6 meses de tratamento ortodôntico, quando o tratamento foi interrompido durante 2 a 3 meses mantendo os arcos passivos e, após a pausa, o tratamento teve continuidade, e assim, observaram que a quantidade de reabsorção radicular foi significantemente menor do que nos indivíduos em que o tratamento não foi interrompido. A perda de material apical é imprevisível e quando se estende para a dentina torna-se irreversível (BREZNIAK; WASSERSTEIN, 1993a). Em casos de presença prévia de reabsorção radicular, a mecânica ortodôntica deve concentrar-se basicamente em aplicar forças suaves capazes de o quanto antes e com o mínimo de movimentação dentária exigida, propiciar o resultado mais estético e funcional possível (ALMEIDA; HENRIQUES; PINZAN, 1989; TAVARES; SAMPAIO, 1997). 4.8 – Recomendações prévias É conveniente realizar radiografias periapicais durante o tratamento ortodôntico para monitorar os efeitos nas raízes dentárias (MASSLER; MALONE, 1954; NEWMAN, 1975; COPELAND; GREEN, 1986; LEVANDER; MALMGREN, 1988; SILVA FILHO et al., 1993; RUPP, 1995; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b; SMALE et al., 2005). Alguns autores sugeriram que as radiografias periapicais dos incisivos centrais superiores deveriam ser realizadas anualmente (BREZNIAK; WASSERSTEIN 1993b), ou periodicamente (LEVANDER; MALMGREN, 1988; LINGE; LINGE, 1991; SILVA FILHO et al., 1993; LEVANDER; MALMGREN; ELIASSON, 1994; TAVARES; SAMPAIO, 1997; SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b;). Levander e Malmgren (1988) e Levander, Malmgren e Eliasson (1994) preconizaram que as 52 4. Discussão radiografias periapicais dos incisivos superiores fossem realizadas de 6 em 6 meses. O planejamento ortodôntico deve ser reavaliado ao ser detectada a reabsorção radicular WASSERSTEIN, 1993b; (COPELAND; RUPP, SAMESHIMA; SINCLAIR, 2001b). 1995; GREEN, TAVARES; 1986; BREZNIAK; SAMPAIO, 1997; 5. CONCLUSÃO 5. Conclusão 54 5 – CONCLUSÃO Analisando a revisão da literatura realizada sobre a reabsorção radicular apical decorrente do tratamento ortodôntico e, segundoo propósito deste trabalho, foi possível concluir que: - Dentes com raízes dilaceradas, pontiagudas ou em forma de pipeta são fatores de risco para a reabsorção radicular apical; - Os movimentos ortodônticos de “vai-e-vem” são fatores de risco para a reabsorção radicular apical e, o tracionamento de caninos superiores impactados também predispõem a ocorrência de reabsorção radicular dos incisivos laterais superiores; - A quantidade de movimentação horizontal dos incisivos superiores tem relação com a reabsorção radicular apical destes dentes; - Os movimentos de intrusão e de extrusão dentária e de torque vestibular e lingual de raiz devem ser executados respeitando-se os ossos corticais adjacentes e aplicar força suave; - A força ortodôntica deve ser suave e intermitente; - O uso de elásticos intermaxilares deve ser realizado com cautela, principalmente nos dentes de apoio para estes elásticos; - Não há diferença de reabsorção radicular apical proveniente das diversas técnicas ortodônticas. 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AUTORIZAÇÃO PARA REPRODUÇÃO Eu, Andréa Kanashiro Tsubono, autora da Monografia intitulada “Estudo da reabsorção radicular apical externa associada ao tratamento ortodôntico” apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ortodontia, em 12 de dezembro de 2006, autorizo a reprodução desta obra a partir do prazo abaixo estabelecido, desde que seja citada a fonte. ( X ) após 6 meses da defesa pública ( ) após 12 meses da defesa pública Marília, 19 de dezembro de 2006 __Andrea Kanashiro Tsubono_ assinatura