EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ANÁLISE DAS PRÁTICAS

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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ANÁLISE DAS PRÁTICAS
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ANÁLISE DAS PRÁTICAS
CORPORAIS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS
ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE PONTA GROSSA
MARTINHUK, Kamila Camilio Martinhuk1 - UEPG
[email protected]
FINCK, Silvia Christina Madrid2 - UEPG
[email protected]
Eixo Temático: Educação, Arte e Movimento
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O esporte é o conteúdo predominante nas aulas de Educação Física (EF), principalmente os
coletivos, acabam, portanto sendo o principal ou o único conhecimento desenvolvido pelo
professor. Além do esporte outros conhecimentos fazem parte do acervo da cultura corporal
os quais devem ser desenvolvidos nas aulas de EF na escola, tais como: jogos, lutas, ginástica,
atividades rítmicas e expressivas e os conhecimentos sobre o corpo. Esta pesquisa teve por
objetivo analisar as aulas de EF de duas escolas municipais da cidade de Ponta Grossa,
buscando identificar como é o ensino/aprendizado das práticas corporais nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Os instrumentos utilizados na pesquisa para a coleta de dados foi a
observação e o questionário. Foram observadas as aulas de EF em duas escolas municipais e
aplicado o questionário para dois professores de EF. Consideramos os dados relacionados à
profissão, a atuação pedagógica e a formação dos professores; o interesse e participação dos
alunos; a relação professor x aluno e aluno x aluno; o espaço físico e os materiais disponíveis
para as aulas; os aspectos do planejamento (objetivos, conteúdos, elaboração do mesmo,
dificuldades relacionadas ao ensino das práticas corporais). Concluímos que o trabalho das
práticas corporais está de alguma forma, sendo trabalhado nas escolas, embora apresente bons
resultados alguns conhecimentos da cultura corporal não são desenvolvidos como as lutas e a
ginástica. É preciso diversificar tais conhecimentos nas aulas de EF, de maneira que todos os
alunos possam conhecer e vivenciar a maioria das práticas corporais e tenham consciência dos
benefícios que as mesmas propõem.
Palavras-chave: Educação Física. Ensino fundamental. Formação de professores.
1
Acadêmica do 4º ano do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG/PR). Faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar e Formação de Professores
– GEPEFE (UEPG/CNPq).
2
Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) atua no Curso de Licenciatura em Educação Física
e no Programa de Pós-Graduação em Educação, Mestrado em Educação da UEPG. É líder do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação Física Escolar e Formação de Professores - GEPEFE (UEPG/CNPq).
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Introdução
O homem utiliza o corpo para realizar as tarefas cotidianas, trabalhar, se comunicar e
se expressar, para isso usa movimentos naturais, tais como andar, correr, saltar, expressões
corporais entre outros, como forma de manifestação e sobrevivência, mas também é capaz de
executar movimentos corporais complexos, difíceis e aprimorados tecnicamente. Com o
decorrer do tempo tais movimentos foram sendo elaborados, construídos, aprimorados e
manifestados fazendo parte do acervo da cultura corporal de movimento (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Nesse sentido a cultura corporal difere de um contexto e outro, pois possui
especificidades que revelam a maneira de ser das pessoas de um determinado lugar,
comunidade. Vivemos de maneiras diferentes, assim, somos educados e educamos nossos
corpos de acordo com as influências que sofremos e as experiências que vivenciamos.
Seguindo uma evolução própria, criamos e reformulamos idéias e conceitos, com isso, dentro
de nossa individualidade, contribuímos para compor uma cultura que também é corporal.
No meio educacional, a palavra cultura é entendida como “o cabedal de
conhecimentos, a ilustração, o saber de uma pessoa ou de um grupo social. Seu conceito é
estendido para a sociedade como um conjunto de padrões de comportamentos, crenças,
conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social” (GALLARDO, 2009, p. 21).
Podemos assim dizer que, adquirimos experiências através de relações pessoais e
sociais as quais contribuem para a formação da nossa identidade.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998, p. 29) a Educação
Física é assim conceituada:
[...] entende-se a Educação Física como uma área de conhecimento da cultura
corporal [...] e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra
o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la,
reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos
esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da
cidadania e da melhoria da qualidade de vida.
Dentre as diversas produções de cultura corporal, algumas foram incorporadas na
Educação Física (EF) em seus conteúdos como o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e as
lutas. (BRASIL, 1998).
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Vários estudiosos da área da EF (FREIRE, 1989; GALLARDO et al., 1998; PALMA,
2008; entre outros) evidenciam a importância do movimento, da expressividade e da interação
social no processo de desenvolvimento das crianças. Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN (BRASIL, 1998, p. 62) evidenciam que “A Educação Física, é a área do conhecimento
que deve introduzir e integrar os alunos na cultura corporal do movimento, com a finalidade
de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, bem como de manutenção e melhoria da
saúde”.
Assim sendo, a EF na escola deve romper com o tratamento tradicional dos conteúdos,
que na maioria das vezes favorece os alunos que já têm aptidões. Dessa forma, ressaltamos a
importância de trabalhar os conhecimentos que envolvem as práticas corporais que, visando à
cultura corporal, são encarregadas de abordar conteúdos como as danças, as ginásticas, os
esportes, os jogos e as lutas (LAZZAROTTI FILHO et al., 2010). Visto que, “é tarefa da
Educação Física preparar o aluno para ser um praticante físico e ativo, que incorpore o esporte
e os demais componentes da cultura corporal em sua vida [...].” (BETTI; ZULIANE, 2002, p.
3).
A Educação Física Escolar
Podemos considerar que a EF utiliza o movimento como meio para atingir seus
objetivos, movimentos que podem ser entendidos, segundo Betti (1999) como atividades
corporais manifestadas através dos jogos, esportes, ginásticas, danças e lutas.
Segundo Freire e Scaglia (2003), a área da educação avançou pouco em relação à
liberdade de atuação corporal dos alunos. Além da falta de espaço físico, o aluno não possui
um espaço durante as aulas para se expressar, expor suas idéias e usar sua criatividade.
Seguindo essa mesma idéia, Tiriba (2008), aponta em seu texto que as escolas estão
voltadas para a transmissão/apropriação de conhecimentos via razão, necessitando apenas de
mentes atentas e corpos paralisados.
A escola não pode ater-se somente ao intelecto da criança, deve valorizar uma
educação de corpo inteiro (FREIRE, 1989; FREIRE e SCAGLIA, 2003). Para tanto, Oliveira,
(2004) afirma que é preciso que nós, professores, fiquemos atentos para que possamos captar
transformações, rupturas e permanências nas formas de tratar o corpo no interior da escola.
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Possuímos um leque de possibilidades sobre como desenvolver as atividades corporais
sem deixar de lado os aspectos cognitivo, físico, mental e social dando oportunidade de
expressão e criticidade ao aluno.
Trabalhar as práticas corporais exige uma organização dos conteúdos. Freire e Scagila
(2003) dividem os conteúdos em forma de atividades, através de temas. Fazem parte dos
temas propostos para os anos iniciais do ensino fundamental, a sensibilização corporal, jogos
simbólicos, jogos de construção, jogos de regras, rodas cantadas, brincadeiras populares,
ginástica geral, dança folclórica, lutas simples, jogos pré-desportivos, atividades de
fundamentação do esporte, atividades de percepção corporal, relaxamento, alongamentos,
lutas, danças, ginásticas, atividades alternativas, esportes individuais, esportes com raquetes,
esportes sobre rodas e esportes com bolas.
Em meio a tantos conteúdos que fazem parte da Educação Física Escolar, os mesmo
são parte dos grandes eixos da cultura corporal de movimento, sendo: os jogos, esportes,
lutas, ginásticas e as danças, cada um, com suas características e importância.
O jogo, na EF, não deve ser visto como um jogo qualquer, mais um jogo transformado
em um instrumento pedagógico, em um meio de ensino. O jogo faz parte da nossa cultura e
do nosso dia-a-dia representando nossos valores sociais e culturais. (MARQUES, 2009).
Segundo as Diretrizes e Bases da Educação Física (2008, p. 66) o trabalho dos jogos
“são de relevância para o desenvolvimento do ser humano, pois atuam como maneiras de
representação do real através do imaginário [...]”. O Coletivo de Autores (1992, p. 45) vem
afirmar, exemplificar e complementar a situação dizendo que:
Observa-se o desenvolvimento da criança no caráter de seus jogos, que evoluem
desde aqueles onde as regras encontram-se ocultas numa situação imaginária (como,
por exemplo, quando crianças jogam de pai e mãe, elas agem de acordo com as
regras de comportamento de um pai e de uma mãe) até os jogos onde as regras são
cada vez mais claras e precisas, e a situação imaginária é oculta [...]
Sendo assim, o jogo, com suas situações, regras e limites, passa a ser um meio para
que a criança entenda o mundo em que vive.
Para Marques (2009) o jogo apresenta-se como artifício básico para o reconhecimento
das necessidades e para o desenvolvimento da consciência, pois com ele a criança satisfaz
suas vontades e ao mesmo tempo, torna-se ciente de suas decisões. Fator muito importante e
necessário para a vida do cidadão.
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Entre os vários tipos de jogos podemos citar os cooperativos, simbólicos,
competitivos, de raciocínio, de tabuleiros e os populares, que contribuem para com o
conhecimento da nossa cultura e também, a de outras regiões e países.
Dos jogos passamos para o esporte. Conhecimento que tem prioridade e preferência
nas aulas de EF visto que é um fenômeno sociocultural presente em nossa sociedade.
Para Finck (2010, p.159) o esporte, nas aulas de EF
Deverá buscar o desenvolvimento de objetivos educacionais e seu encaminhamento
metodológico deverá incluir estratégias que priorizem vivências de ensinoaprendizagem que possibilitem aos alunos o desenvolvimento da autonomia e da
convivência, atendendo princípios da inclusão, da diversidade e da participação.
O esporte contribui para com os aspectos citados acima e principalmente para o
desenvolvimento das relações em grupo.
Entre os vários tipos de esporte, os que podemos ver nitidamente na escola são os
esportes coletivos. Levando em consideração esta situação, o esporte propicia uma grande
oportunidade de trabalhar valores e a importância do trabalho em grupo. Proporciona também
chances de defender o compromisso para com a solidariedade e respeito, levando a
compreensão de que é importante a presença de um companheiro para que o jogo tenha um
bom resultado e que, existe diferença entre jogar com o companheiro e jogar contra o
adversário (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Estas atitudes são significativas para o nosso dia-a-dia já que vivemos em um mundo
onde a competição e a individualidades estão cada vez mais evidente. Mesmo existindo os
jogos cooperativos, a cooperação pode e deve ser trabalhada nos jogos competitivos
desenvolvendo o espírito de equipe, humildade e até mesmo algumas virtudes como a
paciência.
Além dos aspectos sociais, o esporte da oportunidade para enfatizar as questões
físicas. Se não acabar com um fim em si mesmo, ele abre vários caminhos para trabalhar
assuntos relacionados à saúde, qualidade de vida, hábitos saudáveis, contribuir para um estilo
de vida ativo, servir como um meio para a prevenção de doenças, ou seja, prevenções gerais
para uma melhor qualidade de vida (LIMA; MONSON, 2007).
Todos os tipos de esportes podem ser trabalhados pedagogicamente no contexto
escolar. Podemos citar alguns como os coletivos que já mencionamos (basquete, vôlei,
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handebol, futsal, futebol) individuais (tênis de mesa, xadrez, as modalidades do atletismo
como o salto, corrida, arremesso, lançamentos, entre outros) os radicais e esportes
complementares ou alternativos (skate, escalada, hipismo, ciclismo, bocha, boliche,
canoagem, rapel, entre outros). Vale lembrar que todos podem ser adaptados e, caso tenha
algo que impeça o trabalho, é grande valor que os alunos saibam ao menos, de sua existência.
Considerada também um esporte, as lutas fazem parte do acervo da nossa cultura
corporal de movimento e dos conhecimentos das práticas corporais, embora sejam as menos
mencionadas na escola.
As lutas criam várias possibilidades de discussão nas aulas de EF principalmente em
relação ao contexto social do aluno. É comum a luta ser vista como sinônimo de violência e
agressividade e é de extrema importância que o aluno compreenda que é exatamente ao
contrario. Os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (1997, p. 37) nos afirma
que as lutas “caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de
violência e de deslealdade.” E este é o papel da Educação Física, incluir a luta dentro do
contexto histórico, social e cultura do homem já que o ser humano luta pela sua sobrevivência
desde a pré-história (FERREIRA, 2006).
Por ser algo diferente o trabalho da luta nas aulas de Educação Física pode ser atrativo
e divertido além de contribuir para vários aspectos físicos e motores. As lutas podem ser
trabalhadas, de acordo com as propostas dos PCN (1998) através de brincadeiras como cabode-guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê.
Com destaque para o desenvolvimento físico e motor citamos também, a ginástica.
Sendo definida pelo Coletivo de Autores (1992), como “a arte de expressar o corpo nu” vem,
no decorrer de sua historia até os dias de hoje, utilizar, desenvolver e aprimorar a força,
agilidade, destreza, e representar as experiências lúdicas da comunidade.
A ginástica está classificada em várias modalidades como a artística, acrobática,
olímpica, rítmica, aeróbica, entre outras. A questão de não ser trabalhada na escola está
relacionada a falta de materiais e aparelhos utilizados em determinadas modalidades como na
ginástica olímpica. Porém elementos fundamentais e básicos podem ser tratados como os
rolamentos, as paradas de mãos e de cabeça, os saltos, giros entre outros movimentos que
atraem a atenção das crianças por serem diferentes e desafiadores.
Visto os jogos, esportes, lutas e ginásticas concluiremos esta fase com o conhecimento
da dança.
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Assim como a maioria das manifestações citadas, a dança surgiu juntamente com o
homem e pode ser definia brevemente como “[...] uma manifestação do ser humano presente
em todos os tempos e em todos os povos” (SBORQUIA; GALLARDO, 2006, p. 13).
Nanni (1995, p.134) nos diz que o “homem é uma soma de energias físicas,
emocionais, intelectuais e espirituais e deve desenvolver-se e aprimorar-se através do
processo educativo em todos os seus atributos e valores.”
A dança está presente neste processo e vem para contribuir e atender as metas da
educação e, da Educação Física seja nos aspectos físico, emocional, mental e espiritual. Uma
aula de dança
[...] permite ao professor conhecer melhor o seu aluno, ou seja, saber suas
preferências sobre o que gosta de brincar, de cantar, de ouvir; discutir suas
experiências; fazer fluir sua imaginação e verificar a influencia dela na realidade e
nas atitudes da criança” (FERREIRA, 2009, p. 15).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) apontam como conteúdo obrigatório o
ensino das atividades rítmicas e expressivas, nas aulas de Educação Física no ensino
fundamental, citando a dança como principal meio para o ensino/aprendizado, conhecimento e
valorização das diversas formas de cultura corporal. Embora a dança não tenha um destaque
maior neste documento ela é reconhecida em outros como nas Diretrizes e Bases da Educação
Física e na literatura.
Não existe segredo para desenvolver um trabalho de dança na escola, porém existem
várias dificuldades e desculpas que fazem com que este trabalho seja excluído ou
negligenciado.
O trabalho da dança colabora para o desenvolvimento integral do aluno em todos os
seus sentidos como nos diz Saraiva (2003 apud PIZZATTO, s/d, p.12) quando afirma que a
dança:
[...] permite aos alunos elaborarem seus pensamentos e sentimentos a respeito de si e
também das pessoas que os cercam possibilitando-lhes o entendimento de suas
relações com a natureza, com o meio social e a reestruturação dos seus valores e,
finalmente, a elaboração de movimentos significativos, permitindo assim, que os
alunos, de um modo geral (meninos e meninas) trabalhem em conjunto com suas
diferenças e limites.
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Não podemos focar este ensino somente em projetos de grupos de dança, como
atividade extracurricular ou lembrá-la na época de festas comemorativas. Ensinar a dança vai
além de saber dançar. É preciso ter consciência, formação e informação para que todos os
aspectos sejam trabalhados e todos os objetivos sejam cumpridos.
O relacionamento da dança com a Educação Física é muito rico e não podemos deixar
isso acabar por conta destes e de outros problemas que existem no contexto escolar,
principalmente em nosso país
[...] onde a diversidade cultural tem na dança uma de suas expressões mais
significativas, constituindo um amplo leque de possibilidades de aprendizagem, não
se concebe a não-inclusão desta modalidade como fator de fundamental importância
nas escolas brasileiras (FERREIRA, 2009, p. 11).
Assim podemos dizer que se a dança for excluída do contexto escolar estaremos
privando os alunos de uma das “principais possibilidades de desenvolvimento do seu
repertório motor” (SOARES et al., 1998, p. 48), além de inibir a expressividade da criança,
prejudicando o desenvolvimento da criatividade, criticidade e autonomia no processo de
educação infantil.
Todos os conhecimentos da cultura corporal são de fundamental importância para a EF
na escola, o trabalho pedagógico que inclui as práticas corporais deve ser desenvolvido de
acordo com o contexto, objetivos e necessidades das crianças, cada conhecimento tem sua
especificidade e valor educacional, assim é essencial ampliá-los possibilitando vivências do
corpo em movimento no contexto escolar.
As aulas de Educação Física: as práticas corporais nos anos iniciais do ensino
fundamental
O estudo foi realizado através de pesquisa de campo, qualitativa e descritiva.
Participaram da pesquisa duas escolas (A, B) da Rede Municipal de Ensino de Ponta
Grossa/PR. Como instrumentos de pesquisa foram utilizados uma ficha de observação
(FINCK, 2005) e o questionário. Primeiramente foram realizadas as observações, e
posteriormente foi feita a aplicação do questionário para os professores de EF.
Foram observadas 29 aulas na escola A e 41 aulas na escola B totalizando 70 aulas
observadas. As observações foram realizadas nas mesmas turmas do início ao fim coleta dos
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dados. Na escola A as observações aconteceram em turmas de 2º ano, 4ºano e 5º ano, na
escola B em todas as turmas do 1º e 2º ciclo (do 1º ao 5º ano). Foi aplicado o questionário
para dois professores de EF das respectivas escolas.
Os dados obtidos na pesquisa revelam parte da realidade da EF de algumas escolas
municipais de Ponta Grossa/PR. Podemos afirmar que as escolas oferecem um programa de
EF para ser desenvolvido e que os planejamentos são elaborados individualmente ou com
outros professores de EF, sem a participação dos demais professores da escola. Dentro de
todos os conteúdos propostos para a escola, através do projeto político pedagógico da
Secretaria Municipal de Educação, os professores buscam atingir seus objetivos tendo como
atividades principais as de esquema corporal, pré-desportivos, jogos populares, danças,
esportes, atletismo e coordenação motora.
Pudemos identificar que os conteúdos são desenvolvidos com ênfase no aspecto
procedimental, isto é, relacionado apenas ao fazer, raramente são considerados aspectos
relacionados aos conceitos e as relações afetivas e sociais.
Quanto à metodologia utilizada pelos professores, a mesma não foi identificada em
90% das aulas observadas, restando 7% para as denominadas “aulas livres” e 3% para as aulas
desenvolvidas na abordagem crítico-emancipatória. As aulas podem ser consideradas como
sendo fechadas em 97% daquelas observadas, ou seja, os alunos não contribuem na
construção dos conhecimentos e no desenvolvimento das mesmas. Apenas 3% das aulas
foram consideradas como abertas, isto é, nelas os alunos participaram efetivamente
contribuindo na elaboração de conhecimentos e estratégias.
Os conhecimentos desenvolvidos pelos professores ficaram classificados em 31,4%
para excelente, 50% bom e 18,5% para razoável. As dificuldades permaneceram em 6% para
alta dificuldade, 27% para média, 4% para baixa e 63% das aulas observadas os professores
não apresentaram nenhuma dificuldade na aplicação de suas aulas. Porém, esses dados nos
mostram u ma situação diferente. Analisando individualmente as aulas das duas escolas, onde
ocorreram maiores dificuldades seja por comportamento dos alunos ou por domínio do
conteúdo, foi na escola em que o professor passava pela primeira experiência como docente.
Ao contrario da outra escola em que o professor já atua a mais de dez anos. Uma dificuldade
apontada no questionário por um dos professores foi em relação ao ensino da ginástica, a
mesma, segundo o professor, seria pela falta de espaço físico e materiais de apoio.
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Constamos resultados positivos em relação à participação dos alunos onde em 67%
das aulas a participação foi alta, em 30% foi média e 3% baixa. Dois conhecimentos das
práticas corporais tiveram destaque, o esporte e a dança. Em relação ao interesse e
participação dos alunos, constatamos que nas atividades relacionadas ao esporte, em uma das
escolas, nem todos apresentavam a mesma motivação para participar. O trabalho com o
esporte era realizado com sendo um fim em si mesmo, na forma de um jogo mais rígido,
próxima a do esporte propriamente dito, deixando, portanto de lado quem não tinha as
habilidades necessárias. Verificamos o contrário na outra escola, onde os esportes eram
trabalhados através dos jogos pré-desportivos, de forma lúdica. Constatamos uma alta
participação dos alunos nas aulas em que foi trabalhado o conhecimento da dança, porém a
motivação das crianças decaia na media em que iam repetindo a mesma dança, música e
coreografia. Não notamos a meta dos objetivos propostos pelo professor que era a expressão
corporal, pois na coreografia, os meninos eram separados das meninas onde ambos faziam
interpretações de acordo com a letra da música que os deixavam encabulados.
Percebemos que há uma boa relação entre professores e alunos, assim como entre os
alunos, mesmo tendo ocorrido alguns conflitos entre os mesmos. Em relação ao espaço e
material para o desenvolvimento das aulas de EF, tivemos situações opostas nas duas escolas,
numa o espaço era amplo e os materiais excelentes, na outra o espaço era suficiente com bons
materiais.
Constatamos também diferenças entre as duas escolas em relação ao comportamento
dos alunos nas aulas de EF. Em uma escola os alunos eram totalmente responsáveis e
centrados naquilo que estavam fazendo, enquanto que na outra a EF parecia representar um
momento para apenas brincar e correr, os alunos pareciam não considerar a EF como uma
disciplina como as outras. Podemos justificar esta situação devido à situação em quem se
encontra a EF nestas escolas, enquanto uma já possui professor e oferta aulas de EF há alguns
anos, a outra ainda está iniciando.
Considerações Finais
Através da pesquisa concluímos que o trabalho das práticas corporais está de alguma
forma, sendo trabalhado nas escolas. Em cada uma das escolas cada professor de Educação
Física apresentou uma forma diferenciada de desenvolver o trabalho pedagógico nas aulas.
Acreditamos que o comportamento dos alunos nas aulas de EF apresentou-se de forma
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diferenciada, pelo fato de que a primeira escola já possuía professor de EF, enquanto que a
outra escola ainda estava passando pelo processo de implantação da disciplina, os alunos
ainda não tinham o entendimento de que as aulas não eram momentos apenas para brincar. Os
professores demonstraram certa dificuldade em trabalhar todos os conhecimentos das práticas
corporais. Mesmo obtendo bons resultados alguns conhecimentos não foram identificados,
como as lutas e a ginástica.
Ainda é preciso diversificar os conteúdos a serem ensinados de maneira que todos os
alunos possam conhecer e vivenciar a maioria das práticas corporais.
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